terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Alegria, Alegria (ou Poesia de Bar) (TUBARÃO)


Alegria, Alegria
(ou Poesia de Bar)
(TUBARÃO)


pelos copos que bebo
alegria, alegria
pelas garrafas que ficam
alegria, alegria

pela conversa
pela companhia
pela hora sem pressa
alegria, alegria

pelos cantores desafinados
pela bêbada euforia
pelos amendoins torrados
alegria, alegria

pelas mesas de bar
cheias de filosofia
pelos guardanapos amassados
garranchos de poesia
tudo o que se vê é
alegria, alegria !

domingo, 14 de dezembro de 2008

Gravidez (Luh Oliveira)


Gravidez
Luh Oliveira

e foi naquela noite enluarada
que o gameta luz
fecundou as letras...
houve um trepidar de estrelas
no vasto céu de minha boca
aos poucos tudo silencia
faço uma descoberta
estou grávida
grávida de poesia!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

As mortes (Tanussi Cardoso)


As Mortes
(Tanussi Cardoso)

quando o primeiro amor morreu
eu disse: morri

quando meu pai se foi
coração descontrolado
eu disse: morri

quando as irmãs mortas
a tia morta
eu disse: morri

depois, a avó do Norte
os amigos da sorte
os primos perdidos
o pequinês, o siamês
morri, morri

estou vivo
a poesia pulsa
a natureza explode
o amor me beija na boca
um Deus insiste que sim

sei não
acho que só vou
morrer
depois de mim

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Espera do encontro (Denizis Trindade)

ESPERA DO ENCONTRO
Denizis Trindade

quando alguém chegar,
que eu possa dar
meu sorriso, o céu e o mar,
no melhor do meu olhar.

quando alguém chegar,

que eu possa dar
o maior lugar
no centro do meu altar.

quando alguém chegar,
que eu possa dar
o mais doce manjar,
os licores do meu bar

e um arde quem só quer se dar!

Tiro ao alvo (Adriana Monteiro de Barros)



Tiro ao alvo
Adriana Monteiro de Barros


Abro a janela
Cai o pano
Atiram flechas
Sou o alvo.
Sou a flecha fincada no buraco negro do alvo
Sou a flecha fincada no peito do alvo
Sou a flecha fincada e mirada no buraco do peito
Sou a flecha. Sou o alvo
.Atirem! Atirem! Covardes!
Que não irei reagir
Perdi a coragem arqueada do suicídio
Que ele vá pra longe
Que ele seja o alvo de outras flechas fincadas em meu corpo.
Sou flecha andarilha
Sou a flecha que atinge o ápice do alfabeto
Sou a linguagem pura e sem dialética
Sou o alvo da palavra.
Sou a palavra atingida
Sou arco de palavras e não de flechas
Mas me disfarço em língua afiada
E me retiro quando não há mais silêncio ou palavras.


Mãos ao alto (Luíz Fernando Prôa)


Mãos ao alto
(Luíz Fernando Prôa)

como desligar o automático
quando no lábio o sorriso
é plástico


e cada palavra, mesmo sensata
não guarda emoção
é volátil


como voar sem ter asas
- essas que nascem dos sonhos -
quando o chão
é fato


e toda certeza é não tê-la
toda beleza é feia
e tudo parece
tão chato

dá para desligar a tristeza
quando ela entra na veia
e nos toma
de assalto

Está nos Olhos (Byafra)



ESTÁ NOS OLHOS

(BYAFRA)



está nos olhos de quem vê
a beleza de uma mulher
está no ouvido de quem ouve
a beleza da música
está na vontade de acreditar
a esperança de cada um
e a verdade nas palavras de quem fala
está na pele de quem sente
se é sexo ou amor
está na crença de quem procura
se há felicidade ou pura ilusão
está na vida de quem vive
se está bom ou se quer mais
está no fundo que cada desejo
o que se enxerga pro futuro
está na mão de quem semeia
a redenção ou a rendição.

Celebração (Cairo Trindade)


Celebração
(Cairo Trindade)

hoje é sempre melhor
do que ontem,
porque hoje é hoje,
esta coisa mágica,
única, surpreendente,
que se acaba de repente.

hoje é melhor
do que amanhã,
porque hoje é hoje
e estamos vivos
e plenos de tanto,
até não se sabe
como e quando.

hoje é sempre
melhor que sempre,
porque o hoje foge,
amanhã é um mistério
e ontem é só memória,
história, já era.

hoje é sempre
o maior presente,
porque a vida é agora,
esta hora de som
e luz e festa,
e este instante é tudo
o que nos resta.

Currículo (Eduardo Tornaghi)



Currículo

(Eduardo Tornaghi)


já soquei tijolo já virei concreto
já comi do bom já pastei sem teto
já passei vazio já sonhei repleto
só me falta chorar pra ser completo

já banquei o bobo me pensando esperto
já fechei a porta e ainda restei aberto
já comprei a banca - já fui objeto
só me falta chorar pra ser completo

já plantei a dor achando ser correto
já tive razão mesmo sem estar certo
já me fiz sublime - já fui abjeto

já clamei por voz no pleno deserto
já me atrapalhei com tudo que é afeto
só me falta chorar pra ser completo